quinta-feira, julho 14, 2022

 Data de nascimento....


Sei que há quem se pergunta, afinal quando nasceu e faleceu Artur Ribeiro. É verdade que se pode encontrar várias informações na internet, mas nem todos concordam com as datas. 

Tenho uma cópia do extrato de nascimento deste artista, onde se pode ler quando o nascimento de Artur Ribeiro foi registado. 

Eis aqui... E no documento, está escrito que terá nascido a 08 de agosto de 1923 na cidade de Porto. 





 Curiosidade.... 




Artur Ribeiro enquanto criança nesta foto. 
Já sabem onde ele está? 
Simmmm, ele está mesmo em pé a fingir que sabe tocar guitarra!! 

As duas outras crianças são primos de Artur Ribeiro. 

 



Nem às paredes confesso...

Alguém se lembra desse fado?
Eu lembro me deste fado cantado por Amália Rodrigues. 

Aqui apresento a letra: 

Não queiras gostar de mim
Sem que eu te peça
Nem me dês nada que ao fim
Eu não mereça
Vê se me deitas depois
Culpas no rosto
Isto é sincero porque não quero
Dar-te um desgosto


De quem eu gosto
Nem às paredes confesso
E até aposto
Que não gosto de ninguém
Podes sorrir, podes mentir
Podes chorar também
De quem eu gosto
Nem às paredes confesso


Quem sabe se te esqueci
Ou se te quero
Quem sabe até se é por ti
Por quem eu espero
Se eu gosto ou não afinal
Isso é comigo
Mesmo que penses que me convences
Nada te digo


De quem eu gosto
Nem às paredes confesso
E até aposto
Que não gosto de ninguém
Podes sorrir, podes mentir
Podes chorar também
De quem eu gosto
Nem às paredes confesso



Aqui um vídeo de 2011 nesta seguinte ligação:


https://www.bing.com/videos/search?q=nem+%c3%a0s+paredes+confesso+am%c3%a1lia+rodrigues+1955&qs=n&sp=-1&pq=nem+%c3%a0s+paredes+confesso+am%c3%a1lia+rodrigues+1955&sc=8-45&sk=&cvid=411135DB091F4E9A97CCBB777F2BB8FB&ghsh=0&ghacc=0&ru=%2fsearch%3fq%3dnem%2b%25C3%25A0s%2bparedes%2bconfesso%2bam%25C3%25A1lia%2brodrigues%2b1955%26qs%3dn%26form%3dQBRE%26sp%3d-1%26pq%3dnem%2b%25C3%25A0s%2bparedes%2bconfesso%2bam%25C3%25A1lia%2brodrigues%2b1955%26sc%3d8-45%26sk%3d%26cvid%3d411135DB091F4E9A97CCBB777F2BB8FB%26ghsh%3d0%26ghacc%3d0&view=detail&mmscn=vwrc&mid=EE7E8EBC713EEDF63BEDEE7E8EBC713EEDF63BED&FORM=WRVORC




quarta-feira, março 21, 2007

"O Fado de Ser Fadista" na Hungria


O Fado de ser Fadista
na Hungria

Ao navegar na net, descobri - no site youtube - uma cantora húngara que, num concurso na Hungria penso eu do tipo Ídolos, cantou um fado de Artur Ribeiro: O Fado de ser Fadista.

Por acaso, esta cantora, de seu nome Rúzsa Magdolna , foi escolhida para representar a Hungria no Festival Eurovisão em 2007.


O link é o seguinte:
http://www.youtube.com/watch?v=oQsEiRr513Y

O Fado de ser Fadista - letra e música de Artur Ribeiro - deu entrada à Sociedade Portuguesa de Autores em 1957. A cantora húngara adaptou a letra para a canção do concurso, pondo alguns versos da versão original de lado. Mesmo assim, não me parece que ela saiba português e por isso tem mérito. Eu, muito provavelmente, não seria capaz de cantar uma canção em hungaro como ela cantou em português.

Eis a letra (versão cantada por Carlos Ramos):

Fado é destino marcado

Fado é perdão ou castigo
A própria vida é um Fado
Que o coração traz consigo
Seja canção fatalista
Ou prece de quem sofreu
O Fado de ser fadista
É sina que Deus me deu.

Fado é ternura
Fado é dor, Fado é tristeza

Fado é como que uma reza
De quem sofre ou é feliz

Fado é loucura
É saudade
É incerteza
É bem a mais portuguesa
Das canções do meu país.

Fado é tudo o que acontece
Quando se ri ou se chora
Quando se lembra ou se esquece
Quando se odeia ou se adora
É ter um jeito de artista
Para moldar ao fado a voz
O fado de ser fadista
É morar dentro de nós

Fado é ternura
Fado é dor
Fado é tristeza

Fado é como que uma reza
de quem sofre ou é feliz

Fado é loucura
É saudade
É incerteza
É bem a mais portuguesa
Das canções do meu país.

(Letra e música: Artur Ribeiro. SPA, 1957)

terça-feira, janeiro 16, 2007

Artur Ribeiro e a Mudança

Artur Ribeiro e a mudança.



















Nesta foto, Artur Ribeiro está no centro, junto com 4 músicos.
Parecem estar a tocar alguma canção de influência folclórica, pelos instrumentos que estão a ser usados.
Infelizmente, não consigo distinguir quem são os músicos, nem o local onde foi tirado esta foto. A foto data provavelmente de meados dos anos 1950.
Foto de Artur Ribeiro, espólio do artista.


“Um dos aspectos mais salientes da carreira de Artur Ribeiro foi uma drástica mudança no reportório que utilizou. A problemática [da minha tese em torno da personalidade de Artur Ribeiro] está orientada para a análise dessa mudança. Ao iniciar a pesquisa sobre a obra de Artur Ribeiro que deu entrada na Sociedade Portuguesa de Autores entre 1949 e 1978, descobri que compreende cerca de 1000 canções. O seu reportório é composto por categorias de “música ligeira” a que o próprio autor chama “diversos” (canção popular, marchinha, bolero, samba, slow, valsa, baião…), por “canções regionais” (rabela, bailinho, vira, baile de roda, chula…) e por “fado-canção” de 1949 até 1967; a partir de 1967 e até 1978 é composto quase exclusivamente por “fado tradicional”. O reportório do artista entre 1949 e 1966 é diferente do período 1967 a 1978. Pareceu-me interessante descobrir porquê. Para perceber as razões dessa mudança decidi observá-las em vários contextos em relação ao indivíduo, e em relação à sociedade.”

Esta observação tornou-se o centro do problema. Porque razão Artur Ribeiro terá mudado o seu repotório? Tal como se tratasse de uma obsessão, para poder desvendar a razão ou as razões deste problema, tive de conhecer melhor o artista e relacionar a sua vivência e actividade artística com a sociedade e cultura portuguesas. Porque talvez houvesse alguma mudança na própria sociedade ou na cultura que fizesse com que ele a seguisse!

“[Na minha tese] em torno da personalidade de Artur Ribeiro [---] trata-se de estudar ou analisar uma mudança que se verifica na obra de um indivíduo. Não se trata de contar a vida deste artista, mas sim de utilizar a sua vida artística para questionar tal mudança. Não foi meu objectivo tornar esta dissertação numa biografia. Visto Artur Ribeiro ter falecido em 1988 e a investigação ter ocorrido grande parte entre 2002 e 2004, a pesquisa de campo realizou-se, entre outros, através de “terceiros”, indivíduos familiares, colegas ou outros, a exemplo do que se passa com o trabalho de Danielson (Voice of Egypt 1997).”

Deste trabalho não se tratou de escrever uma biografia, como já disse, porque uma biografia, por sua natureza, contem ou pode conter distorções, deformações, ocultações, transposições do real, da parte de quem conta a história.
A biografia é um texto literário, e também é utilizado como uma fonte histórica. Tal como explico na minha tese, “Conhecem-se os riscos da biografia: não temos a “verdade oficial” mas só se pode respeitar a “verdade relativa”, porque “da parte de quem escreve [existe] a tendência para ignorar ou adoçar os aspectos mais mesquinhos ou negativos da pessoa de quem se conta a vida, enaltecendo e heroicisando os seus feitos”. Conclui-se “que a manipulação dessa necessidade de extraordinários, pode facilmente ser abusada por qualquer poder que deseje impôr modelos de comportamento ou outras ideias ficcionadas de nós mesmos” (Rodrigues 2003:18-26).” Por exemplo, a autora Rodrigues lembra que “[...] podemos observar o fascínio que o Estado Novo tinha pelas vidas dos heróis que geraram a ‘raça portuguesa’, utilizando tais biografias e ficções para construir uma ideia de portugueses e de Portugal que lhes interessava, radicando nesse mito, por exemplo, a justificação de um colonialismo paternalista, proviciano e ultrapassado”.

Há que considerar que a biografia é uma ferramenta útil para observar a identidade de um grupo e os seus comportamentos em relação a outros grupos. No entanto, para a escrita da tese, não me foi possível entrevistar o artista por estar falecido vários anos antes da investigação. Para evitar de criar mais distorções, deformações, etc. da parte de terceiros que me contaram partes da vida de Artur Ribeiro cada um à sua maneira, decidi não escrever a biografia do artista mas sim utilizar a sua vida artítica para compreender a razão que o levou a modificar o seu reportório.
Utilizei a vida artística de Artur Ribeiro e eventos socio-culturais para questionar a mudança no seu reportório.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Fiz Leilão de Mim

Esta canção Fiz Leilão de Mim, é, ao dizer de vários artistas que o conheceram, a canção mais representativa da personalidade de Artur Ribeiro. Declarada na Sociedade Portuguesa de Autores em 1967, outras canções muito conhecidas de sua autoria da década de 1950 até meados de 1960 tinham uma temática mais alegre e positiva, daí eu não ter a certeza de que Fiz Leilão de Mim seja a canção mais representativa do artista... talvez a seja numa determinada altura da carreira do artista. Com certeza que Artur Ribeiro não foi, em todo a sua vida artística, uma pessoa negativa e pessimista como descreve o conteudo desta letra.
Não deixa de ser que a letra tem carácter e significado intenso.
Alguns artistas, além de Artur Ribeiro, gravaram esta canção, entre outros Max e Rodrigo.


FIZ LEILÃO DE MIM

Talvez de razão perdida
Quis fazer leilão da vida
Disse ao leiloeiro
Venda ao desbarato
Venda o lote inteiro
Que ando de mim farto
Meus versos que não são versos
Atirei ao chão dispersos
A ver se algum dia
O mundo pateta
Por analogia
Diz que sou poeta

Refrão:
Fiz leilão de mim
E fui por fim apregoado
Mas de mau que sou
Ninguém gritou arrematado
Fiz leilão de mim
Tinhas razão minha almofada
Com lances a esmo
Provei a mim mesmo
Que não valho mais que nada

Também quis vender meu fado
Meu modo de ser errado
Leiloei ternura
Chamaram-me louco
Mostrei amargura
E o mundo fez pouco
Depois leiloei carinho
E em praça fiquei sozinho
Diz-me a pouca sorte
Que para castigo
Até vir a morte
Vou ficar comigo.

15/08/1967, SPA
Letra: Artur Ribeiro
Música: Max



sexta-feira, janeiro 05, 2007

Quem se lembra de Artur Ribeiro?


Quem se lembra de Artur Ribeiro?



Artur Ribeiro no seu carro, comprado em 1954.
Foto de Artur Ribeiro, espólio.


Artur Ribeiro (1923-1988) era portuense mas fez a sua carreira na capital entre as décadas de 1940 e 1980. Se pouca gente se lembra do artista, talvez seja mais fácil recordá-lo rememorando as suas canções como: A Rosinha dos Limões, mas também A Fonte das Sete Bicas, Sete Saias, Cachopa do Minho, Nem às Paredes Confesso, Pauliteiros do Douro, ou fados como Eu nasci Amanhã, O Meu Coração Parou, Adeus Mouraria, Lisboa à meia-Noite.

Este blog é dedicado ao artista Artur Ribeiro. Toda a informação que encontre neste blog provém da minha tese de Mestrado em Etnomusicologia (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa) intitulada Fiz Leilão de Mim: A Carreira de Artur Ribeiro no Portugal do Estado Novo (concluída em 2006) ou de informações adquiridas durante a investigação deste trabalho (entre 2002 e 2005), ou posterior a ela.

Alguns trechos da introdução, com observações:
“A escolha da personalidade de Artur Ribeiro como centro da minha investigação aconteceu quando descobri que este artista foi o autor de um vasto conjunto de canções algumas das quais escutei muitas vezes durante a minha infância e até hoje; o meu pai sempre cantou estas canções em França, enquanto a minha irmã e eu éramos crianças, e ainda hoje continua a cantá-las. São canções que atingiram um nível de grande popularidade, em Portugal bem como nas comunidades migrantes.”

Talvez a canção mais significativa que me lembro perfeitamente seja A Fonte das Sete Bicas, mas igualmente recordo-me bem da Rosinha dos Limões, Cachopa do Minho, Sete Saias, Pauliteiros de Miranda (também com título: Pauliteiros do Douro), e muitas outras. Estas são, em grande parte, canções da Canção Ligeira portuguesa de influência do folclore musical (excepto a Rosinha dos Limões).
O meu pai ainda canta A Fonte das Sete Bicas sobretudo quando cozinha, e também quando eu era criança e que ia fazer a sesta, é o meu pai que me cantava as canções de Artur Ribeiro. Essas canções ficaram gravadas na minha memória. Graças à esse passado e essa lembrança, descobri o autor Artur Ribeiro das canções que canta o meu pai, é um artista que desconhecia completamente. Foi então uma descoberta.

“No início da investigação tinha o desejo e a curiosidade de conhecer Artur Ribeiro, cujas canções sempre ouvi sem saber quem era, e a sua descoberta – bem como a do Fado – permitia-me confirmar a razão de uma busca pessoal de identidade [...]. Porque sou francesa de ascendência portuguesa, vim de França para Portugal com o objectivo principal de conhecer a música portuguesa.”

O que achei fantástico, foi de conhecer as canções de um artista português enquanto sou francesa (nasci em França e vivi lá até aos 24 anos) e que até decidir ir viver para Portugal (em 2000) não sabia quase nada da cultura portuguesa, nem o fado, e até quase não falava português. Significa que a popularidade de Artur Ribeiro numa determinada altura da sua carreira ultrapassou as fronteiras. Tenho de dizer que o meu pai gosta muito das canções deste artista, na altura gostava muito de ouvir cantar Artur Ribeiro, e também é óbvio que escutava as suas canções na rádio no seu local de trabalho. Foi só em 1972-73 que os meus pais decidem ir viver e trabalhar para a França (onde nasci). Foi tempo suficiente para o meu pai conhecer bem as canções deste artista e recordá-las em França, apesar de nunca ter tido nenhum disco de Artur Ribeiro.

“Inicialmente, o objectivo deste trabalho era o estudo do reportório de Fado de Artur Ribeiro que decorria do interesse que eu tinha a respeito do Fado. Porém, enquanto a investigação se desenvolvia, senti a necessidade de orientar esse objectivo para um rumo paralelo, o da etnobiografia (sem pôr de lado o Fado). Uma espécie de biografia, onde se pode analisar a carreira (incluindo o reportório) e a vida artística do indivíduo inserido na cultura e sociedade portuguesa, e discutir a sua importância (e a da sua obra), o seu lugar na sociedade em Portugal. Por outro lado, ao longo da investigação, apercebi-me de que Artur Ribeiro – ao principiar a sua carreira até 1966 como intérprete, compositor e autor – foi cançonetista (embora fosse também vocalista entre 1947 e 1952 no Casino Estoril e em boites de Lisboa) e escreveu canções (letra e música) de reportório da “Música Ligeira Portuguesa” [- e a partir de c. 1967 tornou-se fadista, escrevendo letras para fado tradicional, até ao início da década de 1980].”